domingo, 13 de janeiro de 2008

Lindo!!!!

É quase uma parábola. Bosingwa está para os outros laterais como o FC Porto está para o campeonato. Tal como o bicampeão entrou ontem já a ganhar, sem ter dado um pontapé na bola, porque o Benfica tinha acabado de empatar uns minutos antes, Bosingwa nem precisou que se cumprisse o ritual descrito por ele próprio esta semana. Não foi necessário esperar que os defesas rebentassem: aos cinco minutos, já ele estava a fazer deles culpados pelo primeiro golo. E ontem eram dois, como os que o FC Porto está a deixar de rastos na classificação, para dar ainda mais sentido à parábola. À margem dela: mais dois pontos de vantagem, a recuperação do melhor ataque do campeonato e o inesperado aparecimento de Farías, a produzir e marcar golos. Um sábado azul e branco. Como os outros quase todos. Para o Braga, a primeira derrota da vigência Manuel Machado.

O conveniente problema intestinal do médio Frechaut que alegadamente explica a estreia de Miguelito no Braga também sofre da conveniência de ter viabilizado dois laterais-esquerdos em campo, no mesmo lado, um deles instruído para seguir Bosingwa, pelo que não será tão absurdo como isso imaginar que Bosingwa era o problema intestinal de Frechaut desde o início. O plano era bloquear o jogo e bloqueado ele andou até quem bloqueava mostrar que não tinha como fazê-lo. Aos cinco minutos, o primeiro ataque do FC Porto desmascarou Miguelito, que perdeu a bola para Bosingwa, e os centrais, que não foram capazes de acompanhar Lisandro logo na primeira provocação. Treze minutos depois, sem que o FC Porto tivesse feito mais do que ocupar o espaço, outra desmarcação, outra distracção, outro golo.

O que isto não diz é que, entretanto, corria em segundo plano um FC Porto muito competente, como gosta de dizer Jesualdo Ferreira. Se tivesse ficado pelo 0-0, os treinadores chamariam "táctico" ao jogo de ontem, mas não é pelos quatro golos que deixa de fazer sentido fazê-lo, no que diz respeito ao FC Porto. Qualidade de passe, qualidade nas marcações, qualidade na distribuição pelo campo, qualidade na leitura das acções do adversário e mais uma série de chavões que precisam mesmo de ser utilizados para descrever a serenidade com que a equipa de Jesualdo ontem fabricou um 4-0, sempre ao mesmo ritmo, enquanto o Braga se deformava e conformava à procura de remédio. O primeiro foi César Peixoto (Carlos Fernandes, 30'), talvez difícil de engolir pelos bracarenses, mas bem visto por Manuel Machado, que o pôs à cabeça do meio-campo para aproveitar, talvez, o bom passe, embora pensando sobretudo nos cruzamentos que sairiam das suas trocas com os extremos e, claro, nas bolas paradas. A deixa para que o FC Porto pudesse exibir-se também defendendo na sua área.

Na outra, a coisa resolveu-se definitivamente com o empreendedorismo de Raul Meireles, disparado por Lucho aos 18'. Um trecho bonito, pela ideia do primeiro e pela execução do colega, que possibilitou os juros argentinos da segunda parte. Segunda parte do jogo, de facto, porque nem sempre é. Dada a presença de um FC Porto à prova de erros, o jogo acabou na primeira; depois, vieram os extras, o DVD com os efeitos especiais que não cabiam no filme. Neste caso, uma ressurreição, embora Farías nunca tenha chegado a estar vivo fora da Argentina: quando fazia sentido questionar as saídas de Postiga e Edgar, por ter ficado no lugar deles o ponta-de-lança que menos havia feito, Farías fez. Fez um golo e trabalhou outro para Lisandro, abrindo um canal para novas vias de interesse que o cruzeiro mediterrânico do FC Porto neste campeonato começa mesmo a exigir. O Braga de ontem era, supostamente, do mais complicado que o calendário guarda para o bicampeão. Por isso.
Fonte: OJOGO

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