segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

FC Porto assume mais riscos na gestão financeira

Financiamento dos passivos é chave no futuro dos clubes
O cenário negro é comum às contas dos três clubes que dominam o futebol português: elevados passivos, forte endividamento junto da banca, receitas limitadas e dependência de factores extraordinários, como a venda de jogadores. O que distingue as sociedades anónimas desportivas (SAD) do FC Porto, Benfica e Sporting é a forma como cada uma lida com os problemas financeiros. O campeão nacional é aquele que mais cedo assumiu uma estratégia de maior risco, conseguindo convencer os seus credores (banca) do potencial das receitas geradas pelo futebol. O Sporting é o que está mais condicionado e o Benfica tem vindo a assentar o seu saneamento financeiro na rentabilização da marca.

De acordo com o que apurou o DN sport junto de fontes ligadas aos processos de financiamento das SAD, a situação dos três clubes é muito semelhante. O Sporting e o Benfica apresentam os passivos mais elevados, acima dos 200 milhões de euros. O FC Porto está apenas ligeiramente atrás. No entanto, estes números não são os que aparecem nas contas das SAD, porque parte diz respeito ao universo global do clube. A sua contabilização é feita de forma diferente entre cada um. As três registaram lucros no último exercício - FC Porto, dois milhões de euros, Benfica, 15,2 milhões e Sporting, 14,4 milhões. Mas os lucros são o indicador menos importante na análise das diferentes estratégias. Fundamental é como se chega a esses números e, o que é mais importante para os adeptos, como é que essa estratégia se traduz em resultados desportivos.

"O FC Porto tem uma estratégia de risco. Conseguiu convencer os bancos a apoiarem um plano que passa pela venda de jogadores todos os anos. Se não realizassem encaixes avultados, enfrentariam um grave problema, porque a sua estrutura de custos é muito alta", explicou uma fonte financeira, que pediu para não ser identificada. O outro lado desta moeda financeira são os sucessos desportivos baseados na maior agressividade que o FC Porto tem quando vai ao mercado.

Já o Benfica e o Sporting têm estratégias mais cautelosas. A prioridade é terem uma estrutura de custos baixa, privilegiando primeiro o corte das despesas e, depois, uma potenciação das receitas. O objectivo é atenuar ao longo do tempo os custos associados ao elevado passivo para, gradualmente, irem tendo mais margem de manobra financeira. No entanto, entre os dois clubes de Lisboa há diferenças importantes. O Benfica é o clube que maiores receitas obtém na área do marketing, procurando rentabilizar a marca. O que lhe dá maior força para investir. No caso do Sporting, embora ninguém confirme oficialmente, o clube de Alvalade terá assumido maiores investimentos na construção do novo estádio e do centro desportivo, o que acabou por impulsionar o seu passivo. Reduzindo a margem para investir.

Mas o facto de a estratégia financeira dar ao FC Porto mais poder no mercado, garante-lhe o sucesso desportivo? "O FC Porto foi campeão europeu contra clubes com um orçamento muito maior", sublinhou um profissional ligado à consultoria financeira. "Tudo depende do que se faz ao dinheiro, embora este facilite o trabalho da gestão desportiva".

Fonte: Diário de Notícias

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